A ideia original era apenas pernoitar em Rio Grande, mas, dado o perrengue do dia anterior, achamos melhor descansar um dia. Aproveitamos para conhecer um pouco a cidade e resolver pequenas coisas, como a lavar roupa, ir ao supermercado repor nosso estoque e levar a bicicleta do Hélio numa loja para consertar o bagageiro (ficou joia e custo 100 pesos). Entre os pontos que visitamos, está a Plaza Almirante Brown, onde encontramos um posto de informação turística fantástico. A atendente, além de superatenciosa, tinha informação sobre tudo que perguntávamos, inclusive se havia alguma van ou ônibus que pudesse nos levar de Rio Grande até Tolhuin — o tornozelo da Sandra ainda estava ruim e ela não sabia se poderia arriscar pedalar 111 km até a próxima parada na viagem.
Por do sol em Rio Grande
A resposta era sim: havia um serviço de vans que ligava Rio Grande até Ushuaia e fazia uma parada em Tolhuin, justamente na Panaderia La Unión, cujo dono oferecia um lugar para dormir gratuitamente para cicloturistas. Fomos até a companhia e descobrimos que havia vários horários ao longo do dia. Eles levavam a bicicleta também, mas teríamos que pagar uma passagem extra. No final das contas, a Sandra achou melhor não arriscar e seguir de van, enquanto eu e Hélio faríamos o percurso de bike.
Na manhã seguinte, acordamos às seis e saímos da pousada às 7:30. A Sandra ficou de pegar a van das 8:30, enquanto eu e Hélio seguimos pela estrada. Paramos num posto de gasolina na saída da cidade para calibrar os pneus e, depois, foram cerca de 4 km contra o vento. Por sorte, a estrada fez uma curva grande e acabamos com vento de cauda que nos acompanhou por boa parte da viagem. De início, a paisagem desolada do pampa continuou a mesma, com vislumbres ocasionais do mar, mas, ao longo do dia, a vegetação começou a mudar. A estepe começou a virar bosques e florestas, e o horizonte revelou montanhas.
Pampas
Durante a viagem, sempre ficava de olho nas vans que passavam para ver se era a que estava levando a Sandra. Imaginava que se ela passasse e nos visse, pediria para o motorista buzinar ou algo semelhante. Mas durante todo o trajeto, apesar de ver vans da companhia, nenhum sinal dela. Comecei a ficar preocupado, embora pensasse que ela poderia não ter nos visto ou passado por nós quando estávamos fora da pista por algum motivo.
E mais pampas
Na marca dos 72 km, o vento mudou novamente e voltamos a pegá-lo de frente. Vimos outra usina compressora de gás, desta vez da Camuzzi Gas del Sur, e paramos para comer. Os funcionários nos receberam bem, mas não foram tão calorosos quanto Fabian e seus colegas. Quando retornamos à estrada, o vento continuou forte e de frente — nosso progresso foi penoso, especialmente porque começaram a aparecer morrotes e, consequentemente, subidas. Parecia aquela piada sobre a Primeira Lei de Murphy para o ciclismo: não importa onde você vá, será morro acima e contra o vento. A força contrária era tanta que, do outro lado do morro, quando achávamos que teríamos um descanso porque era uma descida, a bicicleta ficava quase parada e éramos obrigados a pedalar para fazer a bike descer.
Usina de compressão de gásO italiano
Nessa parte, cruzamos com outro cicloturista em sentido contrário: um italiano. Ele vinha de Tolhuin e tinha pernoitado na panaderia. Aproveitei para perguntar sobre a Sandra e ele confirmou que ela estava lá — havia chegado por volta das 10 h –, o que me deixou mais tranquilo. Seguimos e, depois dos 96 km, o vento diminuiu um pouco. Junto com a sinuosidade do percurso, isso permitiu que chegássemos a Tolhuin ainda com alguma energia.
Chegando…Tolhuin!
Fomos recebidos pela Sandra logo depois da entrada e nos fartamos de facturas e medialunas na Panaderia La Unión.