Uma amiga me mandou um vídeo institucional falando de um site chamado Ranking Políticos (www.politicos.org.br), cujo “objetivo é oferecer informação para ajudá-lo de forma objetiva a votar melhor”. Os criadores do site usam “dados públicos de diversas fontes para dar ou tirar pontos dos políticos brasileiros” (Deputados federais e senadores). Achei a ideia interessante e fui dar uma olhada.
Ao abrir o ranking em si, me deparo com Ronaldo Caiado (DEM) em primeiro lugar, seguido de Eunício Oliveira (PMDB) em terceiro, Eduardo Bolsonaro (PSC) em sétimo e até Tiririca (PR) em 16o. Achei estranho. Então resolvi aplicar o filtro de estado e ver qual a classificação dos políticos do Rio de Janeiro. Outro resultado… exótico, por assim dizer: Jair Bolsonaro (PSC) aparece em segundo lugar no Rio (29o total), Julio Lopes (PP) é o quinto (65o), Romário (PSB) é o nono (112o) e Rodrigo Maia (DEM), o 16o (207o).
Tive que ir para a segunda página (são 20 políticos por página) para achar o primeiro político da Rede (Miro Teixeira, na 31o posição do Rio e 340o do total) e do PSOL (Chico Alencar, nos 36o e 386o lugares, respectivamente. O infame Pedro Paulo (PMDB), conhecido devido ao caso de violência domestica contra a sua ex-mulher, em contraste, aparece nas posições 25o e 297o.
Quando se ajusta o ranking só para deputados federais, Miro, Chico e Pedro Paulo sobem no ranking total para 288o, 325o e 250o, respectivamente. Lembrando que existem 513 deputados. Ou seja, Miro e Chico não estão nem entre os 50% melhores, mas Pedro Paulo está.
Os números do meu representante na Câmara dos Deputados, Jean Wyllys (PSOL), são: 43o entre os políticos do Rio, 382o entre os deputados federais e 455o no ranking geral.
Resolvi então comparar extremos: Jean Wyllys e Jair Bolsonaro.
Na página Critérios do Ranking, os criadores do site explicam o que os itens significam. No entanto, não encontrei explicação para Participação Pública e eles listam um quesito chamado Mentirômetro que não está representado na ficha dos candidatos. Analisando os dados dos dois políticos, percebe-se que a maior discrepância está na categoria Qualidade Legislativa. Não compreendi como, já que Bolsonaro é conhecido por propostas como castração química de condenados por crimes sexuais e Wyllys tem projetos de garantia de direitos humanos, por exemplo. Por isso, fui checar o que esse quesito significava. Eis a explicação do site:
Qualidade Legislativa:
São pontuadas todas as leis de – 10 à + 10, em que levamos em consideração:Diminuição dos gastos públicos.
Incentivo à livre iniciativa e regime de mercado.
Combate à corrupção.
Eficiência do serviço público.
Meritocracia no funcionalismo.
Liberdade de expressão e informação.
Com exceção de Combate à corrupção e Eficiência do serviço público, (embora esta última seja ambígua, porque “eficiência” costuma ser usado como sinônimo de “redução”) essa lista parece saída de um manual de liberalismo econômico. Por que não considerar como “qualidade legislativa” projetos de lei e ações de defesa dos direitos humanos, proteção de minorias e manutenção e ampliação de serviços sociais? A resposta encontra-se logo abaixo, no site:
O SITE SE POSICIONA EM RELAÇÃO AOS TEMAS SOCIAIS COMO ABORTO, PENA DE MORTE, CASAMENTO GAY, ETC?
Não. Esse tipo de tema não influencia o ranking, nem pra melhor nem para pior. Entendemos essas questões como assuntos particulares e delicados, na qual as opiniões dos brasileiros divergem consideravelmente. Focamos em assuntos em que o consenso é muito maior entre os cidadãos, como por exemplo o combate à corrupção.
Eles não se posicionam sobre “assuntos particulares e delicados” e focam “em assuntos em que o consenso é muito maior”. Só que logo depois, dizem isso:
O SITE SE POSICIONA EM RELAÇÃO A TEMAS ECONÔMICOS E JURÍDICOS?
Sim. Temos firmes valores e princípios a respeito de temas econômicos e de liberdade. Nosso sistema de pontuação baseia-se nesses valores. Acreditamos na defesa dos direitos humanos, no respeito às leis, no combate à corrupção e aos privilégios, na livre iniciativa, no regime de mercado, na eficiência dos serviços públicos, na redução do desperdício, na liberdade de informação e outras bandeiras conquistadas pela civilização nos últimos séculos. Não somos absolutamente “neutros” (se é que exista alguém que seja) e o visitante que navegar pelo nosso site precisa saber disso antes de usar esse projeto. Não temos nada a esconder.
Eles têm “firmes valores e princípios a respeito de temas econômicos e de liberdade” e acreditam na “defesa dos direitos humanos”, mas não parecem achar que essa questão é importante para a pontuação dos políticos, visto a discrepância absurda entre Bolsonaro, um deputado federal que homenageia torturadores, é homofóbico e misógino, e Wyllys, que é o oposto polar dele.
Além disso, se os últimos anos e eleições mostraram algo, é que o consenso não é muito maior em questões como tamanho do Estado/regime de mercado, “eficiência” dos serviços públicos e redução do “desperdício”. Pela própria definição deles, não deveria contar para o ranking.
Pelo menos, eles admitem o viés, embora tentem mascará-lo.
Finalmente, uma rápida leitura da seção Quem Somos do site confirma o perfil que levaram a essas escolhas.
Se você for usar essa ranking, tenha essas informações em mente.