Pedal patagônico: Trecho 2.1 – Punta Arenas –> Porvenir

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A costanera de Punta Arenas

Apesar de termos chegado em Punta Arenas com dois dias de antecedência, não pudemos sair mais cedo (o plano original era ficar apenas três, o que, percebemos, é mais que suficiente para conhecer a cidade), porque tínhamos que esperar nosso amigo Hélio, que se juntaria a nós pelo resto da viagem. Ele só chegaria no dia 6 de janeiro, à noite. Assim, tivemos que achar coisas para fazer em Punta Arenas. Logo no primeiro dia, demos uma rodada pelo centro da cidade, comemos churros, passeamos um pouco pela costanera e jantamos num lugar chamado Fusiones.

Píer na costanera que serve de pouso para os pássaros
Píer na costanera que serve de pouso para os pássaros

Não gostamos do serviço nesse restaurante, mas aconteceu algo engraçado. A garçonete trouxe pão e manteiga, mas queríamos que ela levasse embora. Então pedimos que retirasse o cubierto. Ela nos olhou de maneira estranha, retirou todos os talheres e deixou o pão. Ficamos um pouco irritados e questionamos por que ela tinha feito isso. A moça respondeu que tínhamos pedido para retirá-los. Foi aí que descobrimos que cubierto não é o mesmo que o nosso couvert — significa talheres.

 

As nuvens de Punta Arenas
As nuvens de Punta Arenas

Reparamos logo que Punta Arenas é uma cidade cara, mas outra peculiaridade que notamos foi que parece haver um pouco de má vontade com o turista, como se a ideia fosse arrancar o máximo de dinheiro dele. Por exemplo, um dia, lá pelas 12:30, vimos uma placa anunciando menu (prato executivo) a 6.500 pesos chilenos. Entramos no restaurante (Santino’s), onde literalmente todos os clientes estavam comendo o menu e o pedimos. O garçom informou que já havia acabado e nos passou o cardápio, onde o prato mais barato custava 13.500. Fomos embora, obviamente.

Chamada de gente grande
Chamada de gente grande

Nosso segundo dia foi bem relaxado, com mais passeios pelo centro. Aproveitamos também e compramos um tour para o Parque Nacional Pali Aike, que fica a 90 km de Punta Arenas, para o dia seguinte. Pali aike significa “lugar (aike) para onde os maus espíritos vão (pali)” em tehuelche (ou aonikenk). Descobrimos ainda um bom lugar para comer rápido, barato e com boa qualidade: o Lomito’s. Achamos ainda uma loja de bicicletas, a Bike Service Patagonia, para dar uma olhada na minha transmissão dianteira e no passador de marchas da Sandra, que estavam dando problemas. Resolvemos deixar as duas bicicletas para uma revisão geral.

O Parque Nacional Pali Aike é um lugar onde existia um vulcão, agora extinto, e a paisagem consiste de pampa e áreas cobertas por lava antiga. Apesar de haver alguns lugares interessantes e momentos onde realmente parece que você está em outro planeta, não ficamos muito entusiasmados com o passeio. O forte vento que soprou durante todo o tempo pode ter contribuído para isso. A Sandra até sugeriu que mudássemos a definição de “armadilha de turista” para “passeio em Pali Aike”. Sugestão corroborada por uma rápida pesquisa com os outros participantes do tour: uma canadense e a mãe e a filha de uma família alemã. No final, o passeio incluiu o que chamei de a “experiência tehuelche”: tivemos que andar dois ou três quilômetros, incluindo uma subida, contra o vento até chegar à van. Para não dizer que tudo foi ruim, aprendemos muito sobre a história dos povos indígenas da região e sobre o Chile com a nossa guia, a Jasmina.

Paisagem de Pali Aike
Paisagem de Pali Aike
Sandra Tehuelche
Sandra Tehuelche

No quarto dia, fomos à Bike Service Patagonia pegar nossas bicicletas. Descobrimos que, apesar de supostamente terem realizado uma revisão, os problemas que havíamos relatado permaneciam. Tivemos que ressaltar isso e esperar que o dono e mecânico-chefe,  Claudio Botten, resolvesse as questões. Acabei trocando a transmissão dianteira. Na hora de pagar, a gerente queria me cobrar por “mão de obra”. Questionei se isso não fazia parte da revisão e ela acabou cedendo. De posse das bikes, visitamos alguns pontos mais turísticos da cidade, como o cemitério, considerado o sexto mais bonito do mundo. Não sei como se chega a um ranking desses, mas minha impressão foi de que a beleza fúnebre de Punta Arenas foi superestimada. Fomos também na zona franca da cidade, uma coleção de lojas que fica numa área isenta de impostos. Algumas coisas eram mais baratas, outras nem tanto. Compramos dois extensores e uma meia térmica.

Explorando "outro mundo" em Pali Aike
Explorando “outro mundo” em Pali Aike

Já hospedados no Kloketen, conhecemos duas hóspedes chilenas: Paulina e Valentina. Elas estavam viajando pela Terra do Fogo e depois iriam para o norte, para Puerto Natales. Estavam tentando reservar acampamento no parque Torres del Paine, mas não tinham informações precisas sobre a distância das trilhas etc. Ficamos felizes em compartilhar nossas informações com elas.

No dia 7, nosso quinto dia em Punta Arenas, Hélio bateu à nossa porta. Passeamos com ele pela costanera, pelo centro (apresentando-o ao Lomito’s), fomos novamente à zona franca, desta vez para comprar mantimentos para a viagem, e almoçamos num restaurante muito bom chamado Chumanguito. Hélio, sob orientação da Sandra, também iniciou sua peregrinação pelas lojas de material esportivo à procura de luvas impermeáveis, mas não teve sucesso.

Hélio em Punta Arenas
Hélio em Punta Arenas
Reunião na costanera
Reunião na costanera

No dia seguinte, saímos às 8:15 da manhã para pegar a barca que nos levaria a Porvenir, do outro lado do estreito de Magalhães. A viagem dura duas horas e só é realizada se o mar apresenta condições favoráveis. Por sorte, esse era o caso naquela manhã. Se a viagem tivesse sido cancelada, teríamos que esperar mais um dia, porque, em Punta Arenas, a travessia só é realizada uma vez por dia, às 9 da manhã. Mais ao norte, em Punta Delgada, na Argentina, há uma barca a cada 15 minutos, mas, lá, o trecho a se cruzar é bem mais curto.

Comendo bem no Chumanguito
Comendo bem no Chumanguito