Ecologia & Pandemia

Em comemoração à Semana Mundial do Meio Ambiente, nos juntamos, três biólogos de formação semelhante, mas com atuação profissional em distintos setores da sociedade, para discutir como podemos usar a ecologia para entender o que temos vivido nesses tempos de pandemia. Abordamos sua origem, formas de evitar e conexões com outros temas sensíveis à gestão e conservação do Meio Ambiente, sem o qual não podemos viver.

Acesse a gravação e participe conosco dessa reflexão.

Contra o fascismo, #HaddadSim, #Haddad13

Não sou petista, não votei no Haddad no primeiro turno e concordo com algumas das críticas ao PT, como o fato de não terem apoiado uma candidatura única da esquerda para esta eleição.

Mas, NESTE MOMENTO, isso é irrelevante. Vou dar um exemplo.

Imagine que estamos viajando de barco e, por causa de uma briga, caímos no mar. Agora tem um tubarão vindo na nossa direção.

Podemos discutir as decisões e circunstâncias que nos levaram a estar nessa situação? Sim.

Isso vai impedir o tubarão de chegar e nos devorar? Não.

Então, NESTE MOMENTO, faz mais sentido tentar subir no barco de novo, porque se ficarmos discutindo, na melhor das hipóteses, voltamos pro barco sem uma perna. Na pior…

Não pense que não tem como acontecer, porque já ocorreu duas vezes na nossa história: em 1930 e em 1964. Na primeira, demorou 15 anos para voltar pro barco, na segunda, 21.

Só pra deixar explícito:

  • nós somos nós, brasileiros
  • o barco é a democracia
  • o mar é a instabilidade política
  • o tubarão é o Bozo e tudo que ele representa

Mas não precisa acreditar em mim. Seguem algumas fontes para que você chegue à mesma conclusão.

Palestra de Steven Levitsky, um dos autores de Como as democracias morrem, na Fundação FHC, com presença do próprio Fernando Henrique Cardoso (o que faz sua declaração de neutralidade no segundo turno mais estapafúrdia ainda e uma vergonha para a biografia dele).

Em 38 minutos, Levitsky explica que hoje em dia as democracias não são destruídas por golpes militares, mas, sim, pela eleição de candidatos autoritários que usam os próprios mecanismos democráticos para miná-las. Lembra alguém?

Se você não tem tempo de assistir ao vídeo, pode ler a coluna que Levitsky escreveu para a Folha de SP falando especificamente sobre o cenário eleitoral atual (essa informação consta na palestra).

“A democracia do Brasil está vulnerável —vive seu momento mais vulnerável em uma geração. Os brasileiros precisam agir para defendê-la.”

Se você quer entender porque há uma forte associação do candidato do PSL ao fascismo, leia esse texto do cientista político e pesquisador da FGV Oliver Stuenkel no El País, no qual descreve como se deu a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha de 1932. Veja se percebe as similaridades.

“Hitler não chegou ao poder porque todos os alemães eram nazistas ou anti-semitas, mas porque muitas pessoas razoáveis fizeram vista grossa. O mal se estabeleceu na vida cotidiana porque as pessoas eram incapazes ou sem vontade de reconhecê-lo ou denunciá-lo, disseminando-se entre os alemães porque o povo estava disposto a minimizá-lo. Antes de muitos perceberem o que a maquinaria fascista do partido governista estava fazendo, ele já não podia mais ser contido. Era tarde demais.”

Se quer saber como debater com eleitores indecisos ou que demonstram tendência a votar no candidato do PSL (não acredito que os convictos estão abertos a mudar de ideia), veja esse vídeo da socióloga Esther Solano, da Unifesp e baixe o ebook gratuito do livro que ela organizou: O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil.

Se você quer entender a dinâmica de como chegamos a este ponto, leia essa excelente entrevista no El País do filósofo da USP Vladimir Safatle.

O Brasil é a prova mais cabal de que quando você não acerta suas contas com a história, a história te assombra”

À medida que for encontrando mais textos ou vídeos apropriados, atualizarei este post.

É isso. Em 28 de outubro, vote consciente. Não deixe que o fascismo tome conta do país.

Ranking *Mascarado* Políticos

Uma amiga me mandou um vídeo institucional falando de um site chamado Ranking Políticos (www.politicos.org.br), cujo “objetivo é oferecer informação para ajudá-lo de forma objetiva a votar melhor”. Os criadores do site usam “dados públicos de diversas fontes para dar ou tirar pontos dos políticos brasileiros” (Deputados federais e senadores). Achei a ideia interessante e fui dar uma olhada.

Ao abrir o ranking em si, me deparo com Ronaldo Caiado (DEM) em primeiro lugar, seguido de Eunício Oliveira (PMDB) em terceiro, Eduardo Bolsonaro (PSC) em sétimo e até Tiririca (PR) em 16o. Achei estranho. Então resolvi aplicar o filtro de estado e ver qual a classificação dos políticos do Rio de Janeiro. Outro resultado… exótico, por assim dizer: Jair Bolsonaro (PSC) aparece em segundo lugar no Rio (29o total), Julio Lopes (PP) é o quinto (65o), Romário (PSB) é o nono (112o) e Rodrigo Maia (DEM), o 16o (207o).

Tive que ir para a segunda página (são 20 políticos por página) para achar o primeiro político da Rede (Miro Teixeira, na 31o posição do Rio e 340o do total) e do PSOL (Chico Alencar, nos 36o e 386o lugares, respectivamente. O infame Pedro Paulo (PMDB), conhecido devido ao caso de violência domestica contra a sua ex-mulher, em contraste, aparece nas posições 25o e 297o.

Quando se ajusta o ranking só para deputados federais, Miro, Chico e Pedro Paulo sobem no ranking total para 288o, 325o e 250o, respectivamente. Lembrando que existem 513 deputados. Ou seja, Miro e Chico não estão nem entre os 50% melhores, mas Pedro Paulo está.

Os números do meu representante na Câmara dos Deputados, Jean Wyllys (PSOL), são: 43o entre os políticos do Rio, 382o entre os deputados federais e 455o no ranking geral.

Resolvi então comparar extremos: Jean Wyllys e Jair Bolsonaro.

Ranking Jean Wyllys

Ranking Jair Bolsonaro

Na página Critérios do Ranking, os criadores do site explicam o que os itens significam. No entanto, não encontrei explicação para Participação Pública e eles listam um quesito chamado Mentirômetro que não está representado na ficha dos candidatos. Analisando os dados dos dois políticos, percebe-se que a maior discrepância está na categoria Qualidade Legislativa. Não compreendi como, já que Bolsonaro é conhecido por propostas como castração química de condenados por crimes sexuais e Wyllys tem projetos de garantia de direitos humanos, por exemplo. Por isso, fui checar o que esse quesito significava. Eis a explicação do site:

Qualidade Legislativa:
São pontuadas todas as leis de – 10 à + 10, em que levamos em consideração:

Diminuição dos gastos públicos.
Incentivo à livre iniciativa e regime de mercado.
Combate à corrupção.
Eficiência do serviço público.
Meritocracia no funcionalismo.
Liberdade de expressão e informação.

Com exceção de Combate à corrupção e Eficiência do serviço público, (embora esta última seja ambígua, porque “eficiência” costuma ser usado como sinônimo de “redução”) essa lista parece saída de um manual de liberalismo econômico. Por que não considerar como “qualidade legislativa” projetos de lei e ações de defesa dos direitos humanos, proteção de minorias e manutenção e ampliação de serviços sociais? A resposta encontra-se logo abaixo, no site:

O SITE SE POSICIONA EM RELAÇÃO AOS TEMAS SOCIAIS COMO ABORTO, PENA DE MORTE, CASAMENTO GAY, ETC?

Não. Esse tipo de tema não influencia o ranking, nem pra melhor nem para pior. Entendemos essas questões como assuntos particulares e delicados, na qual as opiniões dos brasileiros divergem consideravelmente. Focamos em assuntos em que o consenso é muito maior entre os cidadãos, como por exemplo o combate à corrupção.

Eles não se posicionam sobre “assuntos particulares e delicados” e focam “em assuntos em que o consenso é muito maior”. Só que logo depois, dizem isso:

O SITE SE POSICIONA EM RELAÇÃO A TEMAS ECONÔMICOS E JURÍDICOS?

Sim. Temos firmes valores e princípios a respeito de temas econômicos e de liberdade. Nosso sistema de pontuação baseia-se nesses valores. Acreditamos na defesa dos direitos humanos, no respeito às leis, no combate à corrupção e aos privilégios, na livre iniciativa, no regime de mercado, na eficiência dos serviços públicos, na redução do desperdício, na liberdade de informação e outras bandeiras conquistadas pela civilização nos últimos séculos. Não somos absolutamente “neutros” (se é que exista alguém que seja) e o visitante que navegar pelo nosso site precisa saber disso antes de usar esse projeto. Não temos nada a esconder.

Eles têm “firmes valores e princípios a respeito de temas econômicos e de liberdade” e acreditam na “defesa dos direitos humanos”, mas não parecem achar que essa questão é importante para a pontuação dos políticos, visto a discrepância absurda entre Bolsonaro, um deputado federal que homenageia torturadores, é homofóbico e misógino, e Wyllys, que é o oposto polar dele.

Além disso, se os últimos anos e eleições mostraram algo, é que o consenso não é muito maior em questões como tamanho do Estado/regime de mercado, “eficiência” dos serviços públicos e redução do “desperdício”. Pela própria definição deles, não deveria contar para o ranking.

Pelo menos, eles admitem o viés, embora tentem mascará-lo.

Finalmente, uma rápida leitura da seção Quem Somos do site confirma o perfil que levaram a essas escolhas.

Se você for usar essa ranking, tenha essas informações em mente.