Supermercados Guanabara e a aparente surrealidade de se querer que uma regra seja cumprida

Está ficando difícil ser cliente do Supermercados Guanabara. Cada vez que vou lá, um problema novo acontece.

Ontem, fui no Guanabara da Av. das Américas, 3.501, fazer uma compra rápida – cinco itens. Aos sábados, o Guanabara costuma ficar cheio, mas ele possui caixas com um limite máximo de “15 volumes” e fui para aquela que parecia mais livre.

Para a minha surpresa, a mulher na minha frente tinha muito mais do que 15 volumes, mesmo sendo generoso e contando itens iguais como um volume. Ela estava com dois outros homens que já estavam passando as compras pela caixa. Imaginei que era o velho truque de burlar a regra, dizendo que cada um deles estava comprando 15 volumes.

Minha suspeita foi confirmada, quando um dos homens pagou a sua compra e a mulher ia passar as delas. Contudo, ela ainda continuava com bem mais de 15 volumes. Antes que ela começasse a passagem, a seguinte conversa aconteceu:

Eu (para a caixa): Essa caixa não é de 15 volumes?
Caixa: Eu não tenho como contar, senhor!
Eu: Como assim? Você não consegue ver que tem mais de 15 volumes aqui?
Caixa: Eu não tenho raio-X pra contar, senhor!
Eu: Raio-X? Não precisa disso, basta você contar. Olha: um, dois, três, quatro, cinco…
Mulher: Eu conto isso como um volume (apontando pra seis caixas de creme de leite).
Eu: Mas, ainda assim, você tem mais de 15 volumes.
Mulher: Você quer passar na minha frente?
Eu: Com certeza (passou pra frente dela e começo a passar minhas coisas, a caixa e a mulher continuam falando passivo-agressivamente).
Caixa: Agora a culpa é minha.
Eu: Parcialmente, é, sim. Por que você não falou pra ela que a caixa era de 15 volumes?
Caixa: Não tinha mais ninguém na fila!
Eu: E depois que eu cheguei? Se você acha que o cliente vai brigar com você, por que você não chama o supervisor?
Mulher: Eu não vou perder meu humor por essas coisas.
Homem 1 (mais jovem): O senhor já conseguiu o que queria. Por que ainda está discutindo?
Homem 2 (mais velho): Que coisa chata! Aposto que é eleitor “cidadão de bem”.
Homem 1: O senhor está certo, ela tinha mais produtos do que o permitido, mas ela cedeu a vez pro senhor.
Eu (pro homem 1): Eu não estou falando com você, estou falando com ela (faço sinal pra caixa), porque ela está dizendo que não tem nada que ela possa fazer.

Os quatro continuam me atacando passivo-agressivamente, enquanto pago.

Eu: Não estou entendendo, porque vocês estão me atacando. Só quero que a regra seja cumprida.

Termino a compra e, antes de sair, falo com o supervisor.

Eu: Oi, então, fiz uma compra na caixa 7 agora, onde fui atacado por outros clientes – e a caixa – só porque pedi que a regra dos 15 volumes fosse seguida. Vocês têm que dar um jeito nisso.
Supervisor: É que é complicado, senhor. Tem cliente que fala que não vai sair, briga.
Eu: E aí? Então eu que vou ter que me indispor toda vez que vir aqui?
Supervisor: É complicado…
Eu: Ué, tira a placa de 15 volumes, então. Se vocês não vão fazer nada para que a regra seja cumprida. Ou faz uma capacitação das caixas pra ensinar a elas o que fazer.
Supervisor: … (balança a cabeça, mas não anota nada, significando que vai ignorar o que falei)

O mais “engraçado” disso tudo é que quando eles decidem que eu não posso mais parar minha bicicleta em um determinado local, nunca é complicado mandar um segurança gigantesco vir me dizer que tenho que mudar.

Kafka in Rio 1: Instalação de gás

Kafka in Rio é uma nova seção que estou criando para relatar absurdos lógicos que vou encontrando pela vida. Coisas que não fazem sentido no nosso cotidiano, mas as pessoas insistem em achar que é normal. Enfim, armadilhas labirínticas e non sequituriais em que caímos volta e meia. Algo que faria Kafka querer escrever continuações de O processo.

Digo ‘caímos’ porque não quero limitar o Kafka in Rio às minhas experiências apenas. Se você já passou por algo assim ou conhece alguma história dessas, mande para mim que eu publico. Vamos agora à primeira edição: instalação de gás.


Vou me mudar para um novo apartamento. Novo mesmo, nunca teve alguém morando lá, por isso ontem  liguei para a Gas Natural Fenosa para pedir que ligassem o fornecimento. Fui atendido pelo Wesley (protocolo 2287916226) que, após colher os meus dados, me informou que o serviço custaria R$ 85, mas que esse valor dava direito a instalação de dois equipamentos.

Ótimo, pensei, ele vai instalar o fogão e o aquecedor. Foi então que o Wesley me disse que a instalação só poderia ocorrer se os equipamentos estivessem presentes quando o técnico visitasse o apartamento. Surpreso, respondi que ninguém havia morado no local antes, por isso não havia um aquecedor e como eu não entendia de instalação de gás, não sabia qual comprar — essa informação tinha que ser dada pelo técnico.

Wesley foi tácito ao dizer que o técnico não fazia esse serviço, pois não estava incluído na taxa. Retruquei que aquilo não fazia sentido: como assim ele não poderia me informar qual modelo de aquecedor comprar? O que aconteceria se eu comprasse um equipamento que o técnico depois dissesse que não era apropriado?

Wesley respondeu novamente que aquele serviço não estava previsto e que só era oferecido para clientes que já tinham o fornecimento de gás habilitado.

Ele acrescentou que eu devia perguntar nos outros apartamentos qual o modelo que era usado.

Ou seja, a Gas Natural Fenosa só informa qual o modelo de aquecedor que deve ser usado para clientes que já possuem um aquecedor.

Eles deviam disponibilizar uma máquina do tempo. Assim, eu poderia viajar um mês no futuro, descobrir qual aquecedor eu estarei usando, voltar para o presente e comprá-lo.

Surreal. Pelo menos me deu a idéia do Kafka in Rio. :]

Atualização (30-junho-2016): corrigi o nome da companhia, que não é mais pública, para Gas Natural Fenosa.